sábado, 22 de fevereiro de 2014

AS MÁSCARAS


AS MÁSCARAS


Ornamentadas em diversos materiais (madeiras, metais, conchas, fibras, marfim, argila, chifre, pedra, penas, couro, peles, papel, tecido e palha de milho), as máscaras representaram, ao longo dos séculos, os seres sobrenaturais, as divindades e os antepassados. Uma das mais antigas práticas humanas, o uso das primeiras máscaras pelo homem primitivo teria ocorrido em 9.000 a.C.. Em fase de restauração no Museu Bible et Terre Sainte, em Paris, e no Museu de Israel, em Jerusalém, as máscaras antropomórficas (detentoras de características humanas) teriam sido utilizadas em diversas celebrações, cultos e rituais de povos primitivos. Elas buscariam a associação do usuário com algum tipo de autoridade incontestável, tal como "deuses" ou alguma outra forma de creditar a reivindicação da pessoa em um determinado papel social.
Na China, as máscaras eram usadas para afastar os maus espíritos. No Egito Antigo e na Grécia, elas eram inseridas sobre o rosto dos falecidos na crença da passagem para a vida eterna. Essas máscaras mortuárias estilizadas tinham a função de orientar e evitar a "fuga" espiritual do corpo, seu lugar de descanso eterno. Elas eram feitas de tecido coberto com gesso ou estuque (uma argamassa composta de gesso, água e cal, de secagem rápida) e pintadas logo em seguida. Para personagens mais importantes, foram utilizados metais preciosos como a prata e o ouro.
Foi também durante a Grécia antiga que surgiram as máscaras teatrais. O exagero de expressão era característica principal dessas máscaras, que maximizava a natureza de cada personagem. Usadas em rituais de drama (também adotadas nas festas dionisíacas), elas foram projetadas em um tamanho que permitisse ampliar a presença do ator e também sua voz, através de um dispositivo embutido em uma espécie de "megafone".
Entre o final da Idade Média e ao longo do século 18, a confecção das máscaras mortuárias para a realeza da Europa foi reavivada, tornando-se tradição entre as pessoas famosas da sociedade europeia entre o século 17 e 20. Com cera ou gesso líquido de paris (feita de minério de cálcio e água, que tem a propriedade de não encolher e endurecer rapidamente), o negativo do rosto humano era produzido e agia como um molde para a imagem positiva. Segundo o historiador José Mattoso, em As Máscaras: o rosto da vida e da morte (Universidade do Porto, 1999), "(...) este ritual tinha por si mesmo uma forte eficácia como elo de coesão para o grupo de descendentes. (...) A manutenção deste elo garantia a prosperidade e a fecundidade do grupo, isto é, assegurava a sua perpetuação."
O teatro japonês No (misto de canto, pantomima, música e poesia) possui cerca de 125 variedades de máscaras, que são classificadas em cinco tipos gerais: pessoas de idade (masculino e feminino), deuses, deusas, demônios e duendes. Confeccionadas em madeira, revestidas de gesso, envernizadas e douradas, as máscaras são pintadas respeitando significados de cada cor: simbolizando a violência e a brutalidade, o vilão é representado pelo preto; o branco caracteriza um governante corrupto; o vermelho significa um homem justo.
A iconografia andina inclui certos personagens e temas onipresentes, desde a era Chavín (pré-inca) ao tempo dos Incas (de 1500 a.C. a 1532 d.C.). Muitas das primeiras máscaras representavam alguns animais, incluindo o jaguar (onça), o puma e a raposa (alguns dos quais posteriormente assumiriam características cada vez mais antropomórficas entre as civilizações Chimú e Moche). O cronista Felipe Guaman Poma de Ayala, que viveu no Peru, desenhou alguns fazendeiros usando cabeças de raposas e peles sobre suas próprias cabeças. Eles incorporariam personagens animalizados durante cerimônias dedicadas a certas entidades espirituais.
Durante o Bal Masqué (tradicional baile de máscaras europeu), o uso de máscaras era obrigatório - e até satisfatório, devido a constantes conflitos políticos. Os cortesões mascarados faziam brincadeiras, confiantes no anonimato, extravasando todos os seus impulsos reprimidos e libertando-os das normas sociais.
Incerta, a origem da palavra "máscara" é interessante: alguns acreditam que poderia ser proveniente do latim (mascus ou masca; "fantasma") derivado do árabe (maskharah, palhaço; e do verbo sakhira, "ao ridículo"). Mas ela também poderia ser proveniente do hebreu (masecha), cuja tradução seria algo como "ele zombou, ridicularizou". Curiosamente, em Veneza, as máscaras tornaram-se peças decorativas, transformando-se em principal atividade econômica para a região. Usadas pelos "bobos da corte", artistas do riso, as máscaras transformaram-se em Arlequim, Pulcinella, Pierrot e Colombina, personagens da Commedia dell’arte. Realizado nas ruas e praças públicas, esse teatro popular improvisado apresentava cenas que ironizavam a vida e os costumes da nobreza da época. Mais tarde, esses mesmos personagens inspirariam o Carnaval veneziano, que duraria até o final do século 18, com a queda da República de Veneza, período em que o uso e a tradição das máscaras começou gradualmente a diminuir, até desaparecer completamente.





















Nenhum comentário:

Postar um comentário