AS MÁSCARAS
Ornamentadas em diversos materiais (madeiras, metais, conchas, fibras,
marfim, argila, chifre, pedra, penas, couro, peles, papel, tecido e palha de
milho), as máscaras representaram, ao longo dos séculos, os seres
sobrenaturais, as divindades e os antepassados. Uma das mais antigas práticas
humanas, o uso das primeiras máscaras pelo homem primitivo teria ocorrido em
9.000 a.C.. Em fase de restauração no Museu Bible et Terre Sainte,
em Paris, e no Museu de Israel, em Jerusalém, as máscaras antropomórficas
(detentoras de características humanas) teriam sido utilizadas em diversas
celebrações, cultos e rituais de povos primitivos. Elas buscariam a associação
do usuário com algum tipo de autoridade incontestável, tal como
"deuses" ou alguma outra forma de creditar a reivindicação da pessoa
em um determinado papel social.
Na China, as máscaras
eram usadas para afastar os maus espíritos. No Egito Antigo e na Grécia, elas
eram inseridas sobre o rosto dos falecidos na crença da passagem para a vida eterna.
Essas máscaras mortuárias estilizadas tinham a função de orientar e evitar a
"fuga" espiritual do corpo, seu lugar de descanso eterno. Elas eram
feitas de tecido coberto com gesso ou estuque (uma argamassa composta de gesso,
água e cal, de secagem rápida) e pintadas logo em seguida. Para personagens
mais importantes, foram utilizados metais preciosos como a prata e o ouro.
Foi também durante a
Grécia antiga que surgiram as máscaras teatrais. O exagero de expressão era
característica principal dessas máscaras, que maximizava a natureza de cada
personagem. Usadas em rituais de drama (também adotadas nas festas
dionisíacas), elas foram projetadas em um tamanho que permitisse ampliar a
presença do ator e também sua voz, através de um dispositivo embutido em uma
espécie de "megafone".
Entre o final da
Idade Média e ao longo do século 18, a confecção das máscaras mortuárias para a
realeza da Europa foi reavivada, tornando-se tradição entre as pessoas famosas
da sociedade europeia entre o século 17 e 20. Com cera ou gesso líquido de paris
(feita de minério de cálcio e água, que tem a propriedade de não encolher e
endurecer rapidamente), o negativo do rosto humano era produzido e agia como um
molde para a imagem positiva. Segundo o historiador José Mattoso, em As
Máscaras: o rosto da vida e da morte (Universidade do Porto, 1999),
"(...) este ritual tinha por si mesmo uma forte eficácia como elo de
coesão para o grupo de descendentes. (...) A manutenção deste elo garantia a
prosperidade e a fecundidade do grupo, isto é, assegurava a sua perpetuação."
O teatro japonês No (misto
de canto, pantomima, música e poesia) possui cerca de 125 variedades de
máscaras, que são classificadas em cinco tipos gerais: pessoas de idade
(masculino e feminino), deuses, deusas, demônios e duendes. Confeccionadas em
madeira, revestidas de gesso, envernizadas e douradas, as máscaras são pintadas
respeitando significados de cada cor: simbolizando a violência e a brutalidade,
o vilão é representado pelo preto; o branco caracteriza um governante corrupto;
o vermelho significa um homem justo.
A iconografia andina
inclui certos personagens e temas onipresentes, desde a era Chavín (pré-inca)
ao tempo dos Incas (de 1500 a.C. a 1532 d.C.). Muitas das primeiras máscaras representavam
alguns animais, incluindo o jaguar (onça), o puma e a raposa (alguns dos quais
posteriormente assumiriam características cada vez mais antropomórficas entre
as civilizações Chimú e Moche). O cronista Felipe Guaman Poma de Ayala, que
viveu no Peru, desenhou alguns fazendeiros usando cabeças de raposas e peles
sobre suas próprias cabeças. Eles incorporariam personagens animalizados
durante cerimônias dedicadas a certas entidades espirituais.
Durante o Bal
Masqué (tradicional baile de máscaras europeu), o uso de máscaras era
obrigatório - e até satisfatório, devido a constantes conflitos políticos. Os
cortesões mascarados faziam brincadeiras, confiantes no anonimato, extravasando
todos os seus impulsos reprimidos e libertando-os das normas sociais.
Incerta, a origem da
palavra "máscara" é interessante: alguns acreditam que poderia ser
proveniente do latim (mascus ou masca;
"fantasma") derivado do árabe (maskharah, palhaço; e do verbo sakhira,
"ao ridículo"). Mas ela também poderia ser proveniente do hebreu (masecha),
cuja tradução seria algo como "ele zombou, ridicularizou".
Curiosamente, em Veneza, as máscaras tornaram-se peças decorativas, transformando-se
em principal atividade econômica para a região. Usadas pelos "bobos da
corte", artistas do riso, as máscaras transformaram-se em Arlequim,
Pulcinella, Pierrot e Colombina, personagens da Commedia dell’arte.
Realizado nas ruas e praças públicas, esse teatro popular improvisado
apresentava cenas que ironizavam a vida e os costumes da nobreza da época. Mais
tarde, esses mesmos personagens inspirariam o Carnaval veneziano, que duraria
até o final do século 18, com a queda da República de Veneza, período em que o
uso e a tradição das máscaras começou gradualmente a diminuir, até desaparecer
completamente.
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